julho 18, 2008

O Cavaleiro das Trevas

Eu costumo dizer que me sinto pequeno ao ver um grande filme. Reduzido por incompetência de conseguir fazer algo ao menos parecido. Ao sair da sessão de O Cavaleiro das Trevas (The Dark Night, 2008), foi diferente. Parecia que eu tinha sido atropelado seguida vezes por um caminhão desgovernado.

E não são poucos os motivos para esta sensação.

A começar pela complexidade da história. Christopher Nolan e seu irmão, Jonathan, capricharam. Este não é simplesmente um filme de Batman, é algo maior.

Ultrapassa barreiras e rótulos, entrando profundamente na natureza humana, escancarando os medos e limites de cada um. É uma história sobre a moral, sacramentando-se no êxtase independente de sua origem, boa ou má.

Em seguida, os Nolan entregam os personagens mais complexos já mostrados em um filme de verão da dimensão de um ícone como Batman. E não apenas um, mas quatro.

Bruce Wayne, Jim Gordon, Harvey Dent e o Coringa são complexos, densos e apaixonados. Uns pela Justiça, outros pelo Caos. A anarquia é o objetivo final. A anarquia que mete o dedo na ferida e cospe na nossa cara, dizendo que todos nós somos culpados pelos erros da sociedade (afinal de contas, o que é ela se não um conjunto de todos nós?).

Heath Ledger faleceu em 22 de janeiro em razão de uma overdose acidental

Na espiral deste furacão, surge Heath Ledger e sua encarnação magistral do maior inimigo do Homem-morcego. Ledger, morto em janeiro de 2008, não atua. Ele se transforma. Assusta, diverte e subverte. Tudo ao mesmo tempo. Um turbilhão de sensações condensadas em cada fotograma. Como se o mundo fosse a sua montanha-russa e os trilhos estivessem a ponto de explodir.

Aaron Eckhart também entrega uma atuação arrepiante

O vilão não está ali para se opor apenas ao herói. Ele o completa. Um não pode existir sem o outro. A vítima aqui é você, espectador. Você é que, sem aviso prévio, é esmagado em sua poltrona, espancado pela balburdia e vomitado pelo masoquismo.

A morte de Ledger, no final das contas, se transforma em uma ironia perversa. É como se o Coringa estivesse gargalhando por ter nos afastado de um ator brilhante e deixado um gosto amargo de desejo frustrado na boca.

Simplesmente, fabuloso.

Davi Boaventura

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