fevereiro 03, 2009

Uma forma poética de julgar

Da série: Gente que faz diferente!

Imagina elaborar um verso para pronunciar uma decisão judicial? Pois, o juiz Afif Jorge Simões Neto do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul premiou "as partes" e os amantes da língua portuguesa com um julgamento bastante poético.

Coube a ele analisar um pedido de recurso de uma ação indenizatória por danos morais em Santana do Livramento. O autor do processo moveu a ação por se sentir ofendido com um pronunciamento feito na Câmara do Município, na qual era acusado pelo réu de não ter feito a prestação das contas da prefeitura.

Em primeira instância, o autor venceu a causa, mas o réu recorreu. O juiz Simões Filho acatou o recurso e julgou o pedido improcedente.

O Excelentíssimo juiz, então, resolveu inovar e um verso ele se pôs a criar (a gente tenta!). Afinal, a justiça pode ser cega, mas, ao menos, é letrada.

A decisão em verso do juiz gaúcho:

"Este é mais um processo
Daqueles de dano moral
O autor se diz ofendido
Na Câmara e no jornal.

Tem até CD nos autos
Que ouvi bem devagar
E não encontrei a calúnia
Nas palavras do Wilmar.

Numa festa sem fronteiras
Teve início a brigantina
Tudo porque não dançou
O Rincão da Carolina.

Já tinha visto falar
Do Grupo da Pitangueira
Dançam chula com a lança
Ou até cobra cruzeira.

Houve ato de repúdio
E o réu falou sem rabisco
Criticando da tribuna
O jeitão do Rui Francisco

Que o autor não presta conta
Nunca disse o demandado
Errou feio o jornalista
Ao inventar o fraseado.

Julgar briga de patrão
É coisa que não me apraza
O que me preocupa, isso sim
São as bombas lá em Gaza.

Ausente a prova do fato
Reformo a sentença guerreada
Rogando aos nobres colegas
Que me acompanhem na estrada

Sem culpa no proceder
Não condeno um inocente
Pois todo o mal que se faz
Um dia volta pra gente

E fica aqui um pedido
Lançado nos estertores
Que a paz volte ao seu trilho
Na terra do velho Flores."


Fonte: Folha

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