Sábado, este Correspondente cá, que está de pouso por Santiago de Compostela, Espanha, foi a uma festa superlegal. Gente de todos os lugares, um monte de garotas bonitas (sou só eu ou todo mundo tem dificuldade de impressionar uma francesa?) e jogos malucos. Houve uma versão hiperelaborada do jogo do detetive e assassino; também um jogo em que te colam (com saliva) um nome de alguém famoso na testa e você tem que adivinhá-lo a partir de perguntas cuja resposta seja sim ou não; quiz de capitais (os europeus brocam na geografia africana) e filmes; e até o velho telefone sem fio, que em francês é chamado de telefone árabe.
Como os meus novos amiguinhos não falavam espanhol tão bem, resolvemos experimentar frases na língua de cada um: teve italiano, francês, galego, português (“tenho saudade de você”), flamenco e até mesmo afegão (! Algo que queria dizer “adoro você” e cujo som era algo parecido a “la dolce vita”). Acabadas as línguas, passamos aos dialetos, e eu soltei logo, em bom baianês, “é nenhuma, meu rei”. Foi a sensação da noite. Me pediram para escrevê-lo, e ficaram-na repetindo todo o tempo.
Para os não-baianos:
A regra que rege o baianês é versatilidade. Nossas expressões mais corriqueiras se adequam aos mais diversos contextos com bastante eficácia. O caso mais conhecido é o do “porra”, a palavra mais funcional do nosso idioma. Pode ser interjeição (“Porra! O que você fez?”), adjetivo (“O que você fez, seu porra?”), substantivo (“Pega essa porra aí pra mim”), sem contar as mais variadas locuções adverbiais – de lugar (“Esse bar fica na casa da porra!”), de quantidade (“Comprei chocolate pra porra!”), de distância (“É longe pra porra!), etc; etc. E quem disser que baiano vive com a boca cheia de porra vai ser assaltado em cada ponto turístico que visitar quando for a Salvador.
Todavia falava eu do “é nenhuma (, meu rei)” — hoje em dia estão tentando substituí-la pela péssima “tá de boa (, negão)”, mas quanto a isso sou conservador. Usamo-la para se dizer que está tudo bem, tranqüilo, em paz. Dois baianos, quando se encontram, podem iniciar a conversação assim:
– E aí, é nenhuma?
– É nenhuma!
Mas também é útil em outras situações, como quando alguém esbarra em você e te pede desculpas. Ou quando você quer saber a opinião de outro para a nova posição de um objeto (“Esse porta-retrato assim tá é nenhuma? É nenhuma”); ou quando você está, sei lá, comprando algo por quilo, e o vendedor quer saber se a quantidade que pôs estava boa; ou…
Passado um pouco o frisson, eu ainda quis impressionar com o dialeto dos traficantes cariocas, mais me calei em respeito à linda alemã (a primeira alemã bonita que eu conheço) que estava presente. E que também não quis nada comigo, mas… é nenhuma.
fevereiro 13, 2008
É nenhuma
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Um comentário:
huehueheuheuhe
adorei o texto, muito bom.
parabéns
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