abril 09, 2008

Romênia

Em suas andanças pela Noruega, este Correspontende cá escutou uma amiga que vive lá dizer ter lido algo com ares governamentais que incentivava os noruegueses a preferirem dar esmola aos viciados em heroína que aos romenos. A justificativa para dar dinheiro aos drogados era a seguinte: eles pedem porque precisam suprir a necessidade química, e não querem fazer mal a ninguém, a não ser que seja preciso fazê-lo para conseguir a droga. Assim, pelo seu bem, caro norueguês, dê-lhes dinheiro quando te abordarem, que nós nos encarregamos das campanhas e outras medidas para desintoxicá-los.

Já dos motivos da sovinice para com os romenos, eu não lembro, provavelmente tem a ver com o fato de darem dinheiro a imigrantes ilegais, que vão enviar a riqueza para fora do país.

O que você sabe sobre a Romênia?

Pois antes de vir para o intercâmbio, minhas únicas referências eram a sua localização, no leste europeu; sua bandeira (eu adorava decalcar as bandeiras dos países na infância, e achava a romena uma das mais bonitas); a Transilvânia, terra do Conde Drácula; e o fato de lá se falar uma língua latina.

Aqui, volta e meia a Romênia vira assunto de conversação. O tema principal, a sua pobreza. E quase sempre os problemas que essa pobreza causa nos ricos países vizinhos. Em dezembro, por exemplo, escutei de um brasileiro residente numa área nobre de Roma há mais de 20 anos que os principais roubos e furtos às casas do bairro eram atribuídos a romenos, e que, naquele mesmo mês, a Itália havia aprovado uma lei de endurecimento quanto a questão das fronteiras abertas para aquele país. (Não nos esqueçamos que, desde 2007, a Romênia faz parte da União Européia.)

A história mais incrível que escutei sobre a Romênia, todavia, foi da boca dos meus dois roomates italianos, Betta e Ste. Estudantes de psicologia, eles foram lá para junto com uma ONG, prestar assistência às crianças. E me contaram que, no governo do ditador Nicolae Ceauşescu (1965 - 1989), havia subsídios para incentivar o aumento da taxa de natalidade. Mas, após a Revolução Romena, encabeçada pelos sociais-democratas, o financiamento acabou. E as famílias pobres e miseráveis abandonaram suas crianças. Algumas foram recolhidas em orfanatos, mas não há uma separação entre as crianças saudáveis e aquelas com algum tipo de descapacidade; e acontece de muitas das crianças sem problemas, pela criação conjunta, desenvolverem limitações, atrofiamentos de fala, de músculos e outros problemas.

Já os que ficaram nas ruas, começaram a se refugiar nos muitos bosques que estão por todo o país, à beira das cidades, e são conhecidos como bosquetari. Eles vivem de roubos ou bicos, são ariscos, de várias idades e tanto meninos quanto meninas e — eu vi as fotos! –, no inverno, dormem embaixo da terra, nas tubulações de gás, por causa do frio cortante. São versões romenas dos Capitães da Areia, em bom resumo.

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