abril 06, 2008

O que fazer quando estiver em Oslo

Os três dias e meio que passei em Oslo foram suficientes para me familiarizar com a cidade, sentindo até mesmo a monotonia suportada com estoicismo por quem vive aí.


Oslo tem cerca de 530 mil habitantes e está cercada, de um lado, por montanhas verdejantes, onde está a periferia com suas belíssimas casas e mansões de madeira, e do outro pel'água salgada de um fiorde mixuruco (o único mixuruco, dizem fontes confiáveis).


Os guias turísticos sugerem, em geral, quatro roteiros: o primeiro é caminhar pela principal rua da cidade, a Karl Johans gate, que vai desde a estação de trem até o modesto palácio real – posto que a Noruega é uma monarquia com democracia parlamentar –, com direito a guardas-estátuas com roupas extravagantes. Pela Karl ou nalguma esquina próxima se pode encontrar os museus, como a Galeria Nacional (onde está a obra de Munch, que pintou O Grito), o Museu da Universidade de Objetos Antigos, com artefatos da era viking e da Baixa Idade Média, e bonitos edifícios públicos, como o Parlamento e o Teatro Nacional. Obviamente, também há comércio, e, por mais elegantes que pareçam as lojas, até onde pude perceber, não existe a típica e brutal diferença de preços entre as zonas turísticas e não-turísticas: é tudo caro, e você ainda é obrigado a desenferrujar sua tabuada, porque a moeda corrente, a coroa norueguesa, kroner para os íntimos, tem mais zeros que o boletim deste meu semestre há de ter. A equivalência é 1€ = 8kr. Mas como quem tá na chuva tem que se molhar, mesmo que seja um pouquinho, sugiro procurarem ali, vizinho ao Grand Hotel, uma confeitaria cujo nome agora não me sai (tem “baker” no meio), onde vendem o melhor croissant que já comi. Recheado na hora com chocolate que, pasmem!, cai incessantemente de uma fontezinha de três ou quatro níveis. Aproveitem para encher um copo com as geléias norueguesas de morango e uva, são de graça, e também das melhores que provei.


O segundo roteiro começa ali ao lado, no prédio da prefeitura, com suas torres gêmeas e seus 49 sinos que tocam distintas melodias a depender da hora. Justo no pé das escadarias da construção, encontram-se esculturas que representam diversos ofícios, a prostituição inclusive. A praça em frente tem mais esculturas, de mulheres e crianças nuas. Destaca-se, no centro e sobre o pedestal mais alto, o que parece ser uma família composta por duas mães, um filho e uma filha, todos de mãos dadas. Dizem as minhas fontes que o número de casais lésbicos em Oslo é visivelmente maior que o número de casais masculinos – seriam, então, essas esculturas uma espécie de homenagem?


Desta praça, pode-se seguir para a Akershus Festning, fortaleza construída no século XIV pelo rei Håkon V. Depois, pegar um ferry-boat até a península de Bygdøy, onde estão os famosos museus dos barcos. Mas também se pode chegar aí no fim dos sightseeings navais (quem sabe você encontra a simpática guia argentina que me ofereceu carne de baleia defumada e peixe seco, especiarias com gosto interessante e cheiro péssimo). Estes passeios se pagam à parte, claro, mas é possível comprar um daily-ticket por 60krs e ter acesso a todos os transportes (bonde, ônibus e metrô, seguro; agora fiquei na dúvida quanto ao ferry, já que não usei).


A terceira rota típica é o Vigelandsparken, que reúne 200 obras do maior escultor noruguês, Gustav Vigeland (1869 – 1948). O ponto de partida é uma ponte ornada por figuras de homens, mulheres e crianças nus, em poses contorcionistas impressionantes. Repare também que, tanto no início quanto no final da ponte, há dois altos pedestais com figuras femininas sendo abraçadas por uma espécie de papagaio monstruoso. Até agora não consegui descobrir se se trata de uma figura da mitologia norueguesa, é provável. Adiante, há uma grande área com figuras titânicas segurando uma fonte rodeada por mais homens, mulheres, crianças e, agora, esqueletos, todos trepados em árvores. Mais à frente, o maior monolito de granito esculpido do mundo, uma forma fálica de 20m de altura, com 121 imagens humanas, representando os diferentes ciclos da vida. Vale a pena gastar umas horas lá de bobeira, admirando cada detalhe algo tragicômico desses trabalhos.


Por fim, caminhe até a estação de Majorstuen e pegue a linha 1 em direção a Holmenkollen, já na periferia tomada de bosques. Trata-se de uma torre de salto de ski de 132,5m de altura, se a memória não me falha. Mesmo de algumas partes do centro é possível avistá-la, e à noite fica toda iluminada. Se for no verão, certamente terá uma vista da cidade mais limpa que a que eu tive.


Agora feche o guia e vamos partir para os dois roteiros mais legais do dia, aos quais só tive acesso graças à minha querida e atenciosa anfitriã: volte para Majorstuen e pegue a linha 3, até o final. Você vai parar num lago cujo nome não tomei nota, de tão fascinado que fiquei. Não me surpreenderia em ver um elementar passar correndo por lá, sua figura meio embaçada pela bruma espessa, quase palpável. Foi aí que tive a experiências mais cinematográfica da minha vida: caminhar sobre as águas ainda congeladas do lago, apesar de já ser primavera. Éramos os únicos fazendo aquilo, todos nos olhavam enquanto nos afastávamos muitíssimo da margem; até que alguém gritou para que voltássemos, que para onde estávamos indo não era seguro. No verão, me parece um lugar incrível para fazer um luau, e creio que as cantorias poderiam ser ouvidas desde a praça da prefeitura, de tão silenciosa que é Oslo. (Fico devendo a foto, está na câmera de outra pessoa.)


Ao voltar para o centro, certamente a luz do dia já terá terminado: é hora de ir pro bar. Se vire para achar a parada de bonde de Holbergs plass e, chegando aí, pergunte pelo Evergreen, a cerveja mais barata da cidade – 36krs o chope. Se quiser beber em casa mesmo, programe-se antes, que só vão te deixar comprar cerveja no supermercado até as seis (oito no verão) da tarde – e isso se for em dia de semana; no sábado, é só até o meio-dia (quatro no verão), e no domingo é impossível. Se preferir vinho ou outras bebidas mais fortes, terá de comprá-los em estabelecimentos estatais, o comércio é monopólio do governo.


O legal de ir no Evergreen é ter a possibilidade de conversar com os nativos, em inglês, que todos dominam muito bem. Não que os noruegueses sejam mais fechados que o resto dos europeus; eles são muito simpáticos e solícitos para dar informações, alguns raros até podem ter a iniciativa de puxar papo contigo, como um senhor que inquiriu a mim e minha anfitriã que língua falávamos e, ao saber que éramos brasileiros, começou a contar-nos da sua admiração por Ayrton Senna. O caso é que, com a bebedeira, eles vão estar mais soltos e fanfarrões. E você também. Só não estranhe se, no meio do conversa, aquele silêncio chato pairar e seu interlocutor aparentar não fazer esforço para rompê-lo. Ao que parece, eles não acham isso constrangedor, e continuam olhando para sua cara e sorrindo, um, três minutos, sem dizer palavra.


No mais, não deixe de, em momento algum, vestir os nativos, na sua imaginação, com roupas vikings. É diversão garantida.

2 comentários:

Anônimo disse...

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Marcela disse...

Simplesmente amei sua descrição de Oslo! Moro aqui.
O nome do lago e da parada do metrô é Sognsvann, e não é o único em Oslo, são vários :)