Relato de um Cirilo Hamilton dúbio após o anuncio da FiFa de que o Brasil será sede da Copa do mundo de 2014.
Sinceramente não consegui dar pulos de alegria ao saber da confirmação de que seriamos a sede da copa de 2014. Freqüento estádios de futebol desde os 6 anos. Aprendi a gostar dos meus times do coração, mas acima disso a amar o futebol. Vi a felicidade que esse esporte pode proporcionar ao sofrido povo desse país. E é justamente por esse povo que me preocupo, será que vai ser possível fazer uma copa do mundo com com responsabilidade social, financeira e fiscal? Nesse país de malas e cuecas?! Sinceramente não sei. E sinto por não saber, sou um apaixonado por futebol que nasceu no nordeste brasileiro numa familia apaixonada por futebol – horas antes de nascer, eu jogava bola na barriga da minha boleira mãe – divida na torcida por um time do meu estado o Bahia e um do Rio, o Vasco.
A paixão da minha mãe e de um tio pelo gigante da colina me fizeram um vascaino, a do meu saudoso avô pelo tricolor da boa terra me fez um “baea” apaixonado. O esporte, e principalmente o futebol foram decisivos pra que eu escolhesse o “jornalismo” como “carreira” e cobrindo o esporte espero ser feliz nessa profissão. Poderia estar muito feliz em saber que a copa será realizada aqui. Como em 2010 já estarei formado penso em ir a da África, mas tudo ainda é uma grande icógnita.
Ainda assim me sinto numa faca de dois gumes com essa confirmação da FIFA. Logo abaixo vinham possíveis as sedes e lá estava a minha querida Salvador, com a proposta de construção da Arena Bahia, ou Arena BaVi como esta sendo chamada por aqui. Investimento estrangeiro e privado que vai gerar mão de obra nacional, empregos na construção civil, muito bom. Mas ai eu olho e enxergo a Fonte Nova, monumental, linda, cansada estruturalmente após 50 anos de descaso mas que hoje a cada rodada da serie C do campeonato brasileiro faz qualquer um sentir um arrepio de felicidade.
A “Fonte Nossa” como aprendeu a chamar o torcedor do Bahia ficará pra escanteio? Será implodida e ali teremos uma área com mais um condomínio de luxo em Salvador? Ou apodrecerá servindo de abrigo para os moradores de rua como já é hoje? Eu que tenho hoje 20 anos e há 14 freqüento a Fonte não imagino outro destino pra ela a não ser o de levar meus filhos para ver o Bahia jogando e sentar de frente para as cabines de imprensa, sob o refletor que balança. E o Barradão? Imponente fruto da luta de apaixonados rubro-negros, também será esquecido?
Como ficamos com um quarto estádio – o municipal Roberto Santos tem uma boa infra-estrutura, não conta com um bom sistema de transporte e esta abandonado as traças - o que fazemos com eles? Nossa Arena ficará de herança para quem? Para nossas crianças? Quantas delas poderiam ter sido salvas se em vez de arenas construíssemos hospitais e escolas. Enfim um dolorosa dúvida persiste.
Creio que não podemos partir sem darmos passos importantes numa caminhada e esse é um grande passo sim, talvez com a copa aqui, milhões de crianças passem a ter mais esperança num futuro próximo melhor, sem que seja preciso rezar pra não morrer atingido por uma bala perdida ou para ter uma opção diferente da de entrar no tráfico? Pode ser que sim. Dei sorrisos sem graça, acompanhado a cerimonia, vi um Lula muito feliz, emocionado, “mais uma conquista” pareci apensar, vi a alegria dos governadores-turistas em Zurique que pareciam cochicar “e os relógios onde achamos?!”.
Vi um Romário pensativo talvez com a bola defendida por Diego Cavalieri no fim do jogo contra o Palmeiras. Assim como Dunga que tinha cara de “2014...será que eu duro até lá?”.O Povo brasileiro fez festa, merece essa festa pra daqui a 7 anos, mas merece muito mais que um alto investimento governamental em Arenas esportivas.
Li na Coluna de Tostão no domingo essa mesma preocupação por parte dele, é quase inconcebível imaginar que apenas a iniciativa privada fará a copa do mundo, o governo investirá e muito, como se viu no Pan, e que imposto terá que ser criado para que banquemos a copa? A CPMF muda de nome? Contribuição para manutenção do futebol? Não sei. No momento me sinto o ser mais dúbio do universo. Comemoro ou me preocupo. A Copa é nossa. E agora o que fazer com ela?
4 comentários:
Pois. Em um país com tanta miséria, a política do "panis et cirecensis" é muito eficaz. Os olhos dos brasileirinhos apaixonados por futebol brilham com a fantasia da copa de 2014. A promessa de construção de mega estádios, investimentos em infraestruturas e de trazer para o país um evento de visibilidade mundial é, como disse meu caro Eric, "uma faca de dois gumes".
No caso da Bahia, não seria mais plausível e mais barato investir na modernização dos estádios já existentes e investir no que realmente é preciso?
Enfim, torço para que a copa venha a ser um espetáculo, não só da bola e dos craques, mas sim do desenvolvimento socio-econimico no Brasil.
Acho imprescindível que haja transparência na prestação de contas nas obras, evitando assim um show de superfaturamentos dos nossos craques da corrupção ...
A copa é nossa, mas lembrem-se o país também.
Particularmente, sempre tive o sonho de ver um jogo de Copa do Mundo. Acredito eu que uma competição no Brasil seja a melhor oportunidade, e talvez a mais legal.
De qualquer modo, temos que pensar que os investimentos para uma competição deste porte não podem (e espera-se que não devam) ser apenas nos estádios, mas na infra-estrutura, turismo e comércio do lugar.
Rezemos, então, para que nossos governantes não façam as mesmas asneiras que sempre foram feitas e joguem o dinheiro público ao espaço e em projetos faraônicos.
Vamos fazer o possível para realizar uma Copa digna e que ofereça beneficios para a população que não esteja diretamente ligada ao nobre esporte bretão.
Eu, infelizmente, não consigo ser otimista. Claro que espero que exista essa preocupação com a sociedade, responsabilidade fiscal e tal, mas está praticamente escrito que o "Pan" vai se repetir.
Rpz, o texto está muito bom! Parabéns! =)
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