As crônicas de Xangai

Os escritores do projeto Amores Expressos passam um mês em alguma cidade do mundo e, ao cabo de 60 dias após sua volta, têm de apresentar uma história de amor. Neste ínterim, podemos acompanhar a odisséia de todos eles através dos blogues que mantêm em amoresexpressos.com.br.

Um destes blogues em especial, o do paulista Antonio Prata, extrapola a condição de diário de viagem bem escrito — seus textos vão mais fundo, onde só a literatura pode ir.

Declaradamente um autor humorístico, Prata, 29, entre os muitos trabalhos que fez, publicou o ótimo As Pernas da Tia Corália e colaborou com o pai, Mario Prata, na novela Bang Bang, da rede Globo. Em abril, na primeira leva de autores, foi enviado a Xangai, China, “a cidade que mais cresce do país que mais cresce no mundo.”

Suas impressões, descobertas, frustrações e encantos são narrados em deliciosas crônicas, a exemplo de Amigas, na qual relata suas andanças com duas universitárias chinesas que faziam troça de seus pêlos e não lhe deixaram beber água gelada. Ou Coisa, coisa, coisa, um relato sobre o caos da paisagem urbanística de Xangai de deixar o leitor angustiado como poucos textos conseguem. Ou ainda Balada do mangue, quando a solidão e a estranheza cultural o atormentavam tanto, que ouvir Simon and Garfunkel num restaurante foi “quase cafuné” — “definitivamente, ombro amigo.”

Como comentou o escritor Joca Reiners Terron no post Homem-Aranha x Cowboy, se Prata juntasse essas crônicas e as entregasse à coordenação do projeto, poderia dar sua missão por cumprida.


[texto originalmente publicado por este escriba na sua coluna de literatura semanal no Caderno Dez!, em 19/06/07]