setembro 05, 2007

Fotografia analógica ainda resiste à invasão digital

Armazenamento adequado e manipulação cuidadosa são essenciais

Desde a criação da câmera digital e dos manipuladores de imagem em computador, as fotografias nunca mais foram as mesmas. Os laboratórios analógicos perderam espaço nos ambientes profissionais e é cada vez mais raro encontrar um turista passeando com uma máquina de filme 35 mm pelas ruas de uma cidade qualquer. Não foram poucos os que decretaram o fim do processo de revelação foto-químico. Contudo, a luz vermelha da lâmpada de proteção, os reveladores e os fixadores químicos ainda mantêm apaixonados.

Nas rodas de discussão, o pixel se tornou o assunto do momento. As lojas fotográficas também perderam público. "A gente revelava 300 a 400 filmes por dia. Hoje, não chega nem a 100", lamenta Walter Andrade, gerente de uma casa de fotografia de Salvador. O experiente Popó, lamenta o cenário que se instalou. "Eu não gosto de digital. Você não curte a foto. No laboratório, a fotografia não vai ser modificada por máquinas, mas pela minha criatividade", rebate.

A afirmação de Popó ganha o apoio de outro grande nome baiano. Para Christian Cravo, filho do renomado fotógrafo Mário Cravo Neto, modificar a fotografia a partir de sua criatividade e ser o seu próprio senhor é o que motiva seu trabalho pessoal, todo feito no formato analógico. "É muito importante que seja feito desta forma", admite.

Para ele, a ampliação no laboratório é a segunda etapa da fotografia. É o momento em que a imagem ganha vida e a interpretação do laboratorista determina qual emoção será apresentada aos olhos do espectador. "Acima de uma técnica e de uma reação química, a revelação em laboratório é uma arte", declara Cravo. Cada detalhe é relevante para o sucesso do trabalho: cortinas e espumas nas portas, luvas, papéis feitos de fibra, armazenamento adequado e até máquinas profissionais de lavagem. Para ter total controle do resultado, Christian produz até mesmo o químico que será utilizado.

"No mercado mundial da arte, é o único processo aceito por colecionadores", aponta o fotógrafo. Ainda assim, todo o trabalho comercial de Christian é feito no formato digital. "Cada processo tem a sua utilidade", justifica-se. "Mas para o mercado fotográfico em preto-e-branco, o digital não tem valor", alerta.

Em meio à polêmica entre o computador e o ampliador manual, o laboratório mantém o seu status. "Você não vai aprender a andar de bicicleta sem pisar no chão. A fotografia analógica é a base de tudo", afirma Cravo. "O photoshop facilita, mas não inventa", aponta José Mamede. "As técnicas foram todas criadas no laboratório foto-químico", completa.

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