setembro 05, 2007

Oi! Nada não.

Enquanto escrevia a crônica atestando minha incapacidade de cumprimentar alguém mais de uma vez num curto intervalo de tempo, lembrei-me de uma outra situação sui generis envolvendo saudações. Creio se tratar de um hábito específico da Bahia, de nossa natureza amigável e extrovertida, capaz de te fazer trocar telefone e combinar um barzinho de fim de semana com quem dividir contigo o assento do ônibus durante um trajeto que dure mais de dez minutos. E o exemplo do buzu aqui não é em vão, pois é justamente nele que acontece o fenômeno a que me refiro.

Falo da mania de gritar por qualquer conhecido que se avista enquanto se está andando de ônibus. Não deve haver viv’alma soteropolitana que já não tenha passado por isso, de estar caminhando tranqüilamente pela rua, escutar seu nome, olhar para trás, não ver ninguém, ouvir novamente o chamado, agora seguido de um aqui, seguir o som com mais atenção e se deparar com um conhecido dentro de um buzu, acenando-lhe com um sorriso. E isso pra quê? Pra nada! Nunca ninguém me deu um recado importante, me fez uma declaração de amor, nem mesmo me xingou quando me gritou do ônibus. Era só pra dar um oi mesmo.

Quando o carro está em alta velocidade, é até mais tolerável, menos vexaminoso. Às vezes você, transeunte, nem se dá conta de que foi chamado. Infelizmente parece sempre haver um sinal fechado, um ponto de ônibus lotado ou alguém se matando com uma baliza quando o seu conhecido buzuzeiro lhe vê, pois ele sempre está parado. O que te obriga a parar também, e ficar encarando a figura — e obviamente encarando todos os demais passageiros, que a essa altura já sabem seu nome — com aquele sorriso amarelo, esperando por algo que, você tem certeza, não há de vir. Eu confesso: quando sou apenas um reles passageiro observador da cena, me divirto com a desconforto da pessoa do lado de fora. E morro de invejo daqueles raros — melhor dizendo daquelas raras, pois as mulheres predominam este grupo de exceção — que conseguem estabelecer um diálogo, sem se importar em estar gritando pra rua inteira.

— Vai pra festa do Paulinho amanhã? Hã? O quê? Ah, tá, só vai chegar mais tarde? Então tá! A gente se vê lá. Vai sozinha? Sabe se a Rê vai? Hã? O quê? Com labirintite? Nossa, menina! Sério?! Lembra de quando eu tive também?

Eu disse morro de inveja? Morria. Outro dia, às sete da manhã, andando pelo Campo Grande, uma amiga me grita de dentro de um Vilas do Atlântico/Praça da Sé, àquela hora preso no engarrafamento do Garcia.

— Oooooi, Bêêêê!

E ficou lá, me sorrindo e acenando. Todos me observando.

— Cadê meus 20 reais que cê tá me devendo, sua caloteira? — soltei, com um sorriso de meia boca.

Ela fechou a cara, fez um gesto vingativo e se empertigou no banco.

Cuidado ao me gritar de um ônibus.

2 comentários:

Eric Luis Carvalho disse...

ahahahhahahaha

gênial sr. B!
Caloteeeeeeeeeeeeeeira! ahuehauehuahwuahueae

Viu sacana! hahahaha...muito bom!

Cirilo Hamilton esperando acontecer alguma noticia esportiva preu postar!

Domingo tem F1!

Anônimo disse...

adoooro você breno..cada vez mais me dando idéias de como evitar gente incoveniente!