DÉBORA BERGAMASCO
O tempo passou, e não apenas para Xuxa. O menino de 12 anos que protagonizou o polêmico filme "Amor Estranho Amor" (1982), com cenas sensuais ao lado da então modelo e atriz, tem 38 anos e é pai de família. Agora, Marcelo Ribeiro conta com exclusividade à Folha Online que está escrevendo um livro sobre a experiência.
Na obra, ainda sem editora, o profissional de informática detalha sua filmografia --composta por "Eros, o Deus do Amor" (1981), "Amor Estranho Amor" (1982) e "Pecado Horizontal" (1982). Bastidores da aventura com a rainha dos baixinhos, é claro, serão incluídos.
Entre diversas passagens do filme dirigido por Walter Hugo Khouri (1929-2003), a eterna rainha dos baixinhos se deita nua sobre Ribeiro e diz frases como "logo você vai virar um gurizão, mas desde já você já é um sabonetinho" e "eu sou uma ursinha macia, olha como eu sou macia". O filme saiu quase completamente de circulação após decisões judiciais em favor da apresentadora --o YouTube, porém, ainda disponibiliza fragmentos do longa.
Segundo Ribeiro, a idéia de escrever um livro surgiu a partir de perguntas em uma comunidade no site de relacionamentos Orkut criada pelo irmão de Marcelo. Em entrevista, ele fala sobre o livro, a interrupção de sua carreira artística e diz se arrepender de ter "jogado contra a Xuxa".
Confira a entrevista:
Folha Online - O que você pretende contar no livro?
Marcelo Ribeiro - Vou contar exatamente a história do meu trabalho, na íntegra, com base nas perguntas que as pessoas me fizeram no Orkut. Vou fazer uma analogia do meu trabalho com base em um jogo. Quem conhece os filmes vai entender às claras. Quem não conhece, vai ficar curioso para conhecer. Isso eu garanto.
Folha Online - Como você foi escolhido para participar do filme "Amor Estranho Amor"?
Ribeiro - Participei de um teste com 500 meninos para o filme "Eros, o Deus do Amor" (1981), de Walter Hugo Khouri, em que fiz cenas sensuais com Kate Lyra. O Khouri notou a repercussão que o filme teve por usar uma criança e resolveu escrever o filme "Amor Estranho Amor".
Folha Online - Como foi filmar com a Xuxa?
Ribeiro - Não vá me chamar de arrogante, mas ela não era "a" Xuxa. Eu estava no meu segundo filme e era o ator principal. Foi o primeiro filme dela, em que fez praticamente uma figuração. E isso é o que me incomoda quando as pessoas tratam como "filme da Xuxa". Não é. Para mim foi normal. Mas eu amei de paixão filmar com a Vera Fischer. Nossa...
Folha Online - E como o longa se transformou no "filme da Xuxa"?
Ribeiro - O primeiro cartaz de porta de cinema era uma foto minha com braços cruzados segurando uma foto que representava um útero remetendo à história de Édipo e Jocasta. Quando a Xuxa começou a fazer sucesso na [extinta] TV Manchete e foi consagrada como "rainha dos baixinhos", a produtora mudou a linha de divulgação do filme. Colocaram Tarcísio [Meira], Íris Bruzzi, Vera Fischer e Mauro Mendonça vestidos e a Xuxa nua no meio. Deixou de ser o filme do garoto para ser o filme da Xuxa. No livro vou dizer por "a mais b", nas entrelinhas, como fizeram isso.
Folha Online - Como era para um menino de 12 anos, na puberdade, filmar cenas eróticas?
Ribeiro - No meu primeiro filme, eu não sabia muito bem como agir. Eles colocaram fita crepe "lá" porque eu não conseguia me controlar. Foi difícil. Mas depois, aprendi a separar o que era trabalho e o que era íntimo. Mas claro que sempre rola uma brincadeira, uma situação constrangedora. .. O set de filmagem é muito místico, você nunca sabe o que pode acontecer.
Folha Online - Em "Amor Estranho Amor" você também usou a fita adesiva?
Ribeiro - Não, daí foi um nu normal.
Folha Online - A Xuxa foi fetiche entre os meninos. Como se sentia por ter se deitado nu com ela?
Ribeiro - Quando ela era original de fábrica... Nossa! Era linda. Aquela da televisão já era outra, já estava desconfigurada. Mas nossa, a Matilde Mastrangi... Meu Deus do céu! Era um mulherão.
Folha Online - Depois que saía das filmagens, quem mais ficava nas suas lembranças?
Ribeiro - A Xuxa, mas foi pelo jeito espontâneo, amigo. Hoje penso que o sucesso que ela faz é merecido. Ela me cativou pelas brincadeiras.
Folha Online - Qual foi o último contato que você teve com Xuxa?
Ribeiro - Foi em 1983, no programa em que Hebe Camargo fez uma homenagem para Xuxa. Eu estive como um amigo para relembrar um trabalho que ela havia feito. Ninguém pensava no filme de forma pejorativa, como aconteceu depois.
Folha Online - Já foi ao programa da Xuxa?
Já, mas não consegui entrar porque deveria ter agendado lugar. Cheguei lá, falei quem eu era, mas não consegui.
Folha Online - Nunca mais teve contato com ela?
Ribeiro - Em 2003, recebi propostas para colocar a mão numa grana e fazer parte de uma revista sensacionalista. Liguei para contar para o advogado dela, que disse que me ligaria de volta. Estou esperando até hoje.
Folha Online - Mas o que você queria?
Ribeiro - Eu errei. Cometi uma falha muito grande na minha vida. Devido à minha cabeça alienada, quando estourou a proibição do filme, eu trabalhava na produtora [Cinearte, mesma do filme]. Fui condicionado a sair com a fita embaixo do braço, rodei o Brasil inteiro aparecendo em programa de TV e divulgando essa fita em porta de cinema. Eu joguei do lado errado, fiquei do lado da produtora. Eu achava que a Xuxa estava errada com a proibição. E só depois que cresci entendi o lance dos cartazes [apelativos] . Nunca liguei para pedir dinheiro para ninguém. Liguei para explicar a situação e mostrar que eu havia entendido o lado dela.
Folha Online - Como é a postura dela?
Ribeiro - Sempre neutra. Fiz uma matéria em um jornal, mandei fotos, fiz um estardalhaço. Ela processou o jornal, que teve de pagar R$ 1,5 milhão. Mas ninguém nunca me ligou para me ameaçar, para pedir nada. De duas, uma: ou eles não vão mexer com um cara que não tem onde cair morto ou, quanto mais bagunça eu fizer, mais aumenta a possibilidade de ganharem dinheiro.
Folha Online - Sua carreira artística já foi prejudicada por causa do filme?
Ribeiro - Tudo se fechou para mim. Não acredito que "mandinga" iria travar a minha vida. Tem uma engrenagem muito maior. No filme "Perfume de Gardênia" [1992], já estava tudo acertado verbalmente para que o adolescente do filme fosse eu. Senti que houve uma manipulação por fora, alguém comeu pelas beiradas. Depois que a Xuxa impediu a circulação da fita, senti que travou um pouco, por receio das pessoas darem o crédito para alguém que pudesse repercutir negativamente. Minha participação na "Casa dos Artistas" também estava praticamente certa, mas um diretor do SBT me disse que aquilo não era para mim. Isso não significa que tenha sido pivô da minha parada no mercado.
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